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CLÁSSICOS

Dizem que os clássicos nunca morrem. Aqui apresentamos alguns autores que, com seus textos, se tornaram clássicos obrigatórios do tema Jogo. 

Johan Huizinga

Quando se pensa no Jogo enquanto manifestação cultural de toda humanidade, verifica-se em Huizinga elementos essenciais dessa compreensão. Historiador e professor, compreendeu que a História é conhecimento fundamental para a elucidação da realidade, em que o ontem ecoa-se no presente. Embora sua vasta obra objetivou, em grande medida, o debate histórico da Idade Média, é de sua autoria um livro clássico sobre o jogo, "Homo Ludens", trazendo as dimensões culturais e lúdicas do ser humano para reflexão. Para uma melhor compreensão do jogo na humanidade, Huizinga é autor fundamental entre aqueles para se deixar de baixo da cabeceira. 

No livro Homo Ludens, Johan Huizinga coloca o jogo como um fenômeno cultural, envolvido por sentidos e significados, social e individualmente constituídos, com um passado tão antigo quanto o da própria humanidade. Afirma que jogar é anterior a cultura, uma vez que os animais já jogavam antes das primeiras expressões culturais elaboradas pelos humanos. Entretanto, é com o seres humanos que o jogo ultrapassa a dimensão biológica, tornando-se uma atividade significante da existência e das relações sociais estabelecidas entre eles. Aborda a questão da ludicidade como elemento integrador das pessoas, daí homo ludens. É com a defesa do jogar e do lúdico na vida social que Huizinga funda uma das mais importantes obras sobre o jogo. 

Gilles Brougère

As contribuições de Gilles Brougère ao campo do jogo e da cultura são profundas quando introduz a educação como elemento social e diferencial na relação das pessoas com o mundo lúdico. É com a educação em uma perspectiva autônoma e criativa, que o jogar, brincar e os brinquedos, serão ressignificados pelos indivíduos. Segue caminhos próximos aos de Huizinga em sua concepção do jogar enquanto fenômeno cultural. Destaca-se pela abordagem e importância que atribui aos processos de ensino e de aprendizagem dos jogos e brincadeiras. Na educação escolarizada é um dos autores mais estudados e "utilizados" nos trabalhos pedagógicos com as crianças que envolvem suas aprendizagens pela ludicidade jogando, brincando.

A CRIANÇA E A CULTURA LÚDICA

No texto A criança e a cultura lúdica, auxiliado pelos estudos do psicanalista inglês Donald Winnicot, Brougère defende a ideia de que o lúdico constitui-se espaço privilegiado para que as pessoas criem uma relação positiva com a cultura. Considera que há fortes marcas sociais na atividade humana do jogo, que só terá sentido graças a cultura na qual estará inserido. É um texto que sintetiza bem seu pensamento sobre as crianças e a cultura lúdica por elas elaborada.

Brinquedo e Cultura exprime bem o pensamento de Brougère a respeito de como os brinquedos e as brincadeiras representam a sociedade nas quais estão inseridos. Os brinquedos podem condicionar ou abrir espaços para novas formas de brincar. Com os brinquedos, surgem relações de consumo e de criatividade quando as crianças ultrapassam os limites por eles impostos. Trata-se um obra importante para professores na utilização dos brinquedos e das brincadeiras como elementos de seu ensino.

Jogo e Educação é um livro significativo para a relação entre escola, educação e o mundo do jogar. Relacionar o jogo com os processos de ensino e aprendizagem é uma tarefa difícil quando impera nos próprios professores uma visão tradicional de educação. Brougère tenta romper com essa visão, abordando estudos de autores de distintas áreas do conhecimento sobre o jogo como possível elemento do ensino. Apresenta a criatividade e ludicidade, por meio dos jogos, como princípios norteadores das aprendizagens estudantis.

Roger Caillois

O francês Roger Caillois trouxe significativas contribuições ao campo do jogo e nas possíveis formas de classificá-los. Embora não tenha enorme quantidade de estudos sobre o tema, é um daqueles autores que a qualidade de sua obra se torna imprescindível ao estudo do jogo atual e futuramente. Traz outra forma de enxergar o jogo, separando-lhe da busca incensante por produção na sociedade moderna e pós-moderna, nas quais jogar também é alvo de consumo e riqueza.  

Os jogos e os homens, obra clássica dentro do campo do jogo, é um livro que apresenta visão singular sobre o que é o jogo. Caillois acredita que o jogo deve ser concebido como uma atividade livre, incerta, improdutiva do ponto de vista econômico. O que será confrontado, atualmente, com a crescente produção e consumo de jogos eletrônicos. Na obra, apresenta uma possível forma de classificar os jogos que, mais adiante, passará a ser estudada constantemente por aqueles que também classificam os jogos. Agon, Alea, Mimicry e ilinx foram difundidos e imortalizados por Caillois.

UM MAPEAMENTO DO CONCEITO DE JOGO

Embora Um mapeamento do conceito de jogo não seja um texto de Caillois propriamente dito, e sim de Patricia M. F. Coelho, sintetiza muito bem o pensamento dele sobre o jogo. Vale a pena ler, pois, além de apresentar as contribuições de Caillois para definição de jogo, também valoriza os estudos de outro clássico, Johan Huizinga.

João Batista Freire da Silva

João Batista Freire, como é mais conhecido, é um dos expoentes de uma Educação Física transformadora na sociedade brasileira. Em suas aulas e textos, lutou e luta, pelo reconhecimento da Educação Física como área pedagógica importante à formação humana. Sua visão sobre o jogo é impar, embora muito se identifica com outros clássicos como Huizinga, Caillois e Brugère na valorização das crianças no ato de jogar e de suas participações ativas na ressignificação das diversas manifestações culturais inerentes ao jogo. 

JOGO, CORPO E ESCOLA

No livro Jogo, corpo e escola, João Batista Freire é um dos autores, na qual escreve as unidade 1 e 3. A primeira unidade, Fundamentos do Jogo, é aquela que contribui para uma visão diferenciada a respeito do jogo. Verifica-se a sua compreensão de jogo e suas potencialidades no cenário escolar. Amplia a percepção do jogar na sociedade e enfatiza que as brincadeiras, danças, esportes podem ser traduzidos como jogos a partir do sentido, significado e do contexto no qual são realizados. Fundamentos do jogo (unidade 1) sintetiza bem a concepção defendida de João Batista Freire sobre o jogo. Por isso, sua leitura é necessária.

OFICINA DO JOGO: ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO

Em Oficina do jogo: ensino, pesquisa e extensão, presencia-se um relato de experiência de João Batista Freire e do Grupo independente de Estudos Oficina do Jogo em Florianópolis, Santa Catarina. O texto mostra como o ensino e a reflexão sobre jogos, nas oficinas, favoreceu a qualidade das aprendizagens estudantis ao londo de cinco anos de investigação. É um artigo que apresenta elementos para se pensar e estruturar trabalhos pedagógicos com jogos de modo que as crianças se sintam participantes de seu próprio processo de aprendizagem. Evidencia, também, a rica e necessária participação de professores de distintas regiões e escolas em um espaço de diálogos e trocas de suas experiências.

O Jogo entre o riso e o choro, traduz os anseios do autor pelo envolvimento das pessoas com os diversos jogos existentes na cultura brasileira e mundial. Permite uma reflexão mais ampla do conceito de jogo e de como ao praticá-lo nos envolvemos social e emocionalmente uns com os outros. É obra clássica sobre o jogar e suas influências no desenvolvimento não só sócio-cultural, mas também humano.

No livro O Jogo dentro e fora da escola na qual forma parceria em sua organização com Silvana Venâncio e coautoria com demais profissionais, João B. Freire é responsável direto pelo primeiro capítulo intitulado "Da escola para a vida". Nesse capítulo, ensina como o ato de jogar na escola tem que fazer sentido  para o mundo que ultrapassa os muros da escola. Percebe-se que o ensino e aprendizagem dos jogos devem ser ações significativas, contextualizadas e criativas para uma formação consciente dos atores sociais que jogam.  Além disso, os demais textos no livro apresentam uma visão da importância dos jogos na educação e socialização tanto dos estudantes como dos professores em contados com eles.

Tizuko Morchida Kishimoto

A compreensão da importância dos jogos e das brincadeiras para uma formação mais humanizada é uma das contribuições de Tizuko Morchida Kishimoto. Suas obras textuais expressam como o brincar e jogar devem ser fortes aliados no processo de educação, sobretudo desde os primeiros anos de vida. Nesse sentido, defende o jogo na Educação Infantil, local de preocupação significativa em seus escritos. É difícil encontrar atualmente textos sobre jogos que não referenciem Kishimoto. Abaixo apenas alguns textos que refletem suas ideias e defesas de uma infância pela ludicidade.

O JOGO E A EDUCAÇÃO INFANTIL

Em O jogo e a educação infantil Kishimoto realiza uma reflexão sobre a dificuldade de definir a palavra jogo pela própria variedade de manifestações em que as pessoas "jogam". Assume o contexto social e a linguagem nele inserido como elementos que assumiram e definirão os jogos e os "não jogos". É um texto que traz importantes reflexões sobre possíveis diferenças entre jogar e brincar.  

O BRINQUEDO NA EDUCAÇÃO CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS

Após verificar poucos estudos a respeito da evolução dos brinquedos ao longo da História, Kishimoto em O brinquedo na educação: considerações históricas aprofunda a discussão especificamente sobre essa temática (evolução dos brinquedos). Porém, na se trata apenas de apresentar as modificações dos brinquedos, mas ressaltar como essas mesmas transformações influenciaram os modos de ser e agir das crianças, além de expressar a sociedade em cada época. Trata-se de um texto relevante sobre os brinquedos e o processo educacional interlaçado pelos avanços nos objetos e nas formas de brincar.

BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

No texto Brinquedos e brincadeiras na educação infantil a autora compreende que pensar em brinquedos e nas brincadeiras na educação escolarizada, especificamente Educação Infantil, é pensar sobre a concepção que se tem sobre a própria criança que brinca (brincará). Aborta que não é qualquer tipo de brinquedo ou brincadeira que são adequados as crianças nessa etapa de escolarização. Selecionar os brinquedos para as crianças é uma tarefa responsável por parte dos profissionais em educação, considerando, por exemplo, a durabilidade, o tamanho, entre outros elementos ligado a integridade das crianças e dos potenciais lúdicos contidos neles. Cita exemplos ao longo do texto de algumas brincadeiras e brinquedos, e como podem favorecer a construção da identidades das crianças.

No livro O jogo e a educação infantil é obra que sintetiza o pensamento de Kishimoto sobre o brincar, jogar como elementos essenciais de formação humana. Específica a discussão sobre a Educação Infantil e o papel dos professores e das crianças na organização social para o educar pelo jogo. Obra que merece ser estudada para uma compreensão mais crítica sobre o jogo na escola. 

Embora Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação não se configure como obra apenas de Kishimoto é essencial para o entendimento da autora sobre o jogar. Vale a pena conferir os capítulos de outros autores que ajudam a perspectiva de Kishimoto sobre o jogo alcançar novos ares e olhares.

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